As grandes revoluções da História da Humanidade com efeitos perpétuos nas nossas vidas começaram sempre por pequenas descobertas cujos efeitos, já ampliados, modificaram definitivamente comportamentos, maneiras de pensar, entendimentos do mundo. A roda que libertou o homem do trabalho braçal, o telescópio que revolucionou a cultura ancestral, revelando a natureza do universo, o microscópio que deu ao Homem o mundo dos bacilos, dos vírus, das bactérias, a máquina a vapor que alterou radicalmente o entendimentos dos instrumentos de produção e fez nascer as novas economias mundiais, são alguns desses momentos cujos efeitos vão para além dos pretendidos pelos seus criadores com consequências complexas e extraordinárias que mudaram o rumo das Civilizações.
Hoje faz vinte e nove anos que a Macintosh lançou o primeiro computador pessoal. Hoje, pese o curto espaço de tempo decorrido, estamos a falar de uma peça de arqueologia. Porém, os desenvolvimentos deste produto trouxeram um mundo novo ao Mundo. Milhões de pessoas estão ligadas em rede a partir das suas casas com instituições, com outros países, tornando-se numa necessidade que modificou radicalmente as nossas formas de agir e de conhecer. Desde o assassinato puro e simples das velhas máquinas de dactilografar até à condução de satélites para além do sistema solar, esta máquina está a produzir efeitos que nós, na pressa dos dias, nem damos conta de como vivemos uma revolução radical que só tem paralelo com a revolução industrial.
O grande anseio do Homem é vencer o tempo e a distância. Não admira, o tempo e o espaço são as duas coordenadas essenciais para a nossa memória. Não conseguimos viver sem um espaço e fora de um tempo. Construímo-nos dentro dessas baias. Morremos dentro delas. E porque sabemos que a Morte é o ponto final, num percurso que desejávamos imortal, desde sempre, a obsessão maior da existência foi construir a ilusão de que podemos vencer o tempo e anular o espaço, garantia ilusória de que, deste modo, superamos a História, vencendo essa certeza bíblica que nos garante que em dia e hora que desconhecemos todos iremos morrer.
O computador é a arma mais poderosa, assim como outros produtos da revolução cibernética, tais como o telemóvel e instrumentos aplicados no mundo bio-médico (no dominio da medicina nuclear) que alguma vez a Humanidade dispôs para chegar ao sonho profundo da Utopia (ausência de espaço) e da Ucronia (ausência de tempo).
O tempo deixou de ser comandada pelas horas e pelos minutos para a sua unidade primordial ser o instante do enter. O espaço unificou-se pois basta abrir o site de melhor conveniência e assistimos e vivemos, a partir da nossa casa, à guerra na Síria, ao lançamento de uma nave espacial nos Estados Unidos, a um jogo de futebol em Tóquio. Em directo, testemunhas directas daquilo que se passa em todos os cantos do mundo.
As profundas alterações que introduziu nos nossos quotidianos é de tal forma radical que construiu novas formas de comunicação, novas linguagens, novas formas de trabalho. Até a nossa Lingua está aqui em permanente modificação pese a preguiça intelectual daqueles que discutem o novo Acordo Ortográfico sem considerar o número infinito de expressões, de códigos, de novas palavras que surgiram nas redes sociais e, também, nos sms's.
Celebramos, pois, o início de uma Nova Idade cujas consequências ainda estão muito longe de percebermos e somos testemunhas e actores de uma revolução formidável que transforma rápidamente o Mundo, a política, a economia, os homens e as nossas relações.
É, pois, tempo de celebrar o nascimento do computador pessoal (agora já é pessoal e portátil) e de o pensarmos dentro do quadro de reflexões que sobredeterminam as nossas visões do Mundo.
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